4 de mai. de 2009

Materia publicada na revista Escapulario del Carmem ( Janeiro 2009 )

Tomo 106 / N° 1338 Espanha

Festa de Senhor dos Passos ( São Cristovão - SE )

As Procissões de Senhor dos Passos são realizadas nos segundos sábado e domingo após a realização do carnaval. Na sexta á noite os fiéis já chegaram, reza-se o Ofício da Paixão de Jesus Cristo seguido da missa. A primeira procissão é noturna e acontece no sábado onde são cantados os sete primeiros passos da Paixão, que são realizados em locais prefixados e mantidos segundo a tradição, onde são erguidos pequenos altares com uma tela represenatando a passo a ser cantado pelos cantadores em latim. Os fiéis carregam velas acesas, muitos dos ex-votos são deixados na Igreja do nesta noite. O cortejo sai da Igreja do Carmo, antecedida pelos Frades, cantores, músicos e promesseiros, a imagem de Senhor dos Passos sai encoberta por uma caixa forrada com tecido de cor roxa, e dirige-se até a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória de onde sairá somente no domingo a tardinha. Os promesseiros seguem em silêncio, a maioria deles, vestindo túnica roxa , outos branca ou preta da Vit sai a IMAJEM DE senhor dos passos, atada á cintura por um cordão branco, outros usam túnica branca ou ainda preta, na cabeça coroas de espinhos ou feixes de lenha. Muitos seguem descalsos, ajoelhados ou a pé, levam os ex-votos, retratos, fitas, bilhetes ou cabelos para colocar na Igreja, ao final deixam também as idumentárias, que são recolhidas e doadas aos pobres. A pocissão diurna, chamada procissão do encontro, realizada na tarde do domingo tem dois cortejos: Um cortejo acompanha o Senhor dos Passos da Igreja Matriz em direção a praça São Francisco onde ocorre o encontro, são cantados três passos neste percurso. Outro cortejo sai da igreja do Carmo acompanhando a imagem de Nossa Senhora em direçãoà mesma praça. Um sermão é realizado no momento do encontro das imagens, logo após ouve-se ecoar o triste canto da Verônica: "O vos ommines qui transites per viam, attendite et videte se est dolor similis dolor meus", e então seguem as duas imagens, conduzidas á Igreja do Carmo em cujo trajeto são cantados os passos finais. Uma missa por fim é celebrada na praça do Carmo com as duas imagens. Os promesseiros atiram suas vestes penitenciais em direção às imagens. A devoção acontece no cenário místico da quaresma, quarenta dias seguintes ao carnaval, tempo litúrgico propício ao jejum, à oração e a caridade, tempo de cura, diariamente lembrado pelos evangelhos que retratam as curas de Jesus em sua passagem pela terra. A cor penitencial tinge de roxo as dores dos cristãos católicos, sendo pano de fundo para o discernimento sobre o pecado, manifestado em seus sinais visíveis: doença, desarmonia, desamor, vícios, desavença, perdição, inquietações, ferimentos, dominações, servidões. O sentido proposto é a reconciliação, o sacrifício, o perdão, a súplica, o reencontro com Deus que pode curar todas as enfermidades, a intercessão e o louvor pelas vitórias alcançadas. Ao romeiro resta vir trazer ou desesperadamente reter suas pobres palavras em silêncios, de pé ou de joelhos, por preces, orações, súplicas e bilhetes deixados a Senhor dos Passos no esboço ou nas ruínas de sua vida, num distúrbio minúsculo por onde aquilo que diz escapa. Ali ele deposita as contingências pessoais e históricas que não são apenas modificáveis, mas que estão em perpétuo deslocamento exigindo um esforço etnolinguístico intenso de aproximação para conhecimento deste homem religioso, aparentemente simples. Dirige-se ele, ao centro do que identifica ser santo, saudável, curador, salvador além de si, irmanado às dores dos outros para esquivar sua pesada e temível materialidade, num complexo misterioso e homogêneo de crenças e visões de mundo. Deixa o romeiro uma parte simbólica de si, identidade conformável parte e membro visível do chamado Corpo Místico de Cristo (Cf. 1 Cor 12,13.).

2 de mar. de 2009

Festa do Senhor dos Passos

A Festa de Senhor dos Passos se aproxima, o Oficio de sua Paixão é rezado nas quatro sextas antes e nas três sextas, seguintes à festa, que ocorrerá nos próximos dias 07 e 08 de março. No estado de Sergipe, não é possível datar com exatidão o início da maior romaria – a procissão de Senhor dos Passos na cidade de São Cristóvão – onde os indícios acenam que tudo começou no final do século XVIII ou início do XIX . Em Fragata (2006), vemos uma descrição histórica e ao mesmo tempo poética para esta manifestação religiosa: “O que os romeiros assistem a cada ano é uma espécie de auto dramático, ambulante, barroco, com paradas denominadas “Passos” ou estações da Via Crucis. Entre a massa de fiéis predomina a túnica roxa atada com cordão, à semelhança da imagem, numa forma de compartilhar o sofrimento do nazareno como um cirineu”(...)[1] ”No domingo, acontece a Procissão do Encontro. O ápice desse ato é o encontro das imagens do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores, invocação mariana. Seguindo percurso distinto, a primeira sai da Igreja Matriz ao tempo em que a segunda sai do Convento do Carmo. Milhares de fiéis ganham as ruas e a Praça São Francisco para escutar o sermão e o canto da Verônica que enredam a comovente liturgia do catolicismo colonial” (Fragata apud Catalogo Ex-voto, 1990, p.23-24). A “sala dos milagres"[2], hoje Museu, é o primeiro lugar que o devoto visita depois de ver o santo e este espaço precisa estar devidamente ordenado, para que o fiel possa visualizar bem cada milagre alcançado, cada graça recebida O “voto” e “ex-voto” são neste sentido, testemunhos da reciprocidade de dons trocados entre o humano e o divino . (Pereira, 2003, p.69). Bibliografia CATALOGO EX-VOTO SERGIPE. - Catalogo do Museu do Ex-voto - Aracaju, A Nacional Ind.Gráfica, 1990.PEREIRA, Jose Carlos. - A Linguagem do Corpo na Devoção Popular do Catolicismo. In; Revista de Estudos da Religião, n.3, p.67-98, PUCSP, 2003. [1] Devoção ao Cristo sofredor, devoção a Paixão, “Devoção Sacrificial”- categoria apresentada por Pereira 2003. [2] Local da Capela ou Igreja, onde ficam guardados as “promessas” ou “milagres”, termos designados pelos agentes populares para significar as ofertas.

3 de fev. de 2009

Milagre é qualquer manifestação da presença ativa de Deus na historia humana. O NovoTestamento registra 49 milagres de Jesus. Sete destes foram, escritos para confirmar, de forma direta a divindade de Jesus, outros quarenta e dois , mesmo manifestando a divindade de quem os fez, foram feitos para ajudar os necessitados e revelar seu grande amor por todas as pessoas. Os milagres foram narrados pelos evangelistas Mateus, Marcos, João e Lucas. Dezoito narram Jesus devolvendo a Saúde, quatro deles Jesus devolvendo a vida. O relato dos milagres exprime a presença do sagrado na vida cotidiana. O Cristão penitente, confirma a união inequívoca entre Saúde e Salvação, afirma o Antropólogo Francês François Laplantine, que aponta as romarias como formas elementares de Medicina Popular, onde o religioso e o médico estão estritamente ligados. Desde tempos muito remotos o ex-voto ou desobriga representam uma `imagem testemunho` desta relação do homem com Deus. A deposição dos ex-votos abre uma fonte de comunicação visual com dimensões culturais, artísticas e religiosas, sendo o milagre de estonteante simplicidade para a alma religiosa popular, no entanto, é importante buscar uma dupla compreensão do `milagre`: como `sinal`, interpretação derivada da fé; como `fato`, constatado por todos, podendo ter ou não uma significação cientifica. No museu dos ex-votos de São Cristóvão já não há evangelistas conhecidos, mas Cristãos, muitos deles anônimos, que crêem e por isto recebem graças que precisam ser expostas. A devoção ao Senhor dos Passos (Jesus em direção ao Calvário) gerou durante os séculos um acervo de 3500 ex-votos, sendo sua maior parte relacionados à saúde, apesar dos desvios por colecionadores e das destruições para conter o numero do acervo ou mesmo pela destruição natural de muitos deles. Este acervo na minha compreensão, forma uma única e grande `imagem testemunho`, e tem a força anunciadora de um evangelista. Jesus não passa mais entre nós com seu manto sagrado, suas palavras de amor não soam aos nossos ouvidos, sua presença material há 2009 anos deixou de ser sentida, mas sua presença imaterial esta viva nestes testemunhos. Ele continua passando, não mais em direção ao calvário, mas em direção a vida daqueles que crêem, `quem tem olhos que vejam`.

12 de jan. de 2009

A reorganização desse museu tornou-se objeto de estudo para Mestrado em Antropologia na UFS. Concentrando os estudos nos ex-votos do museu de São Cristóvão e na procissão de Senhor dos Passos, enquanto documentos material e imaterial, respectivamente, a pesquisa objetiva visualizar os elementos relacionados à medicina popular, reveladores de formas elementares de cura relativas ao “valor” saúde sob múltiplos olhares: da antropologia, da religiosidade, da comunicação visual, do imaginário popular, buscando compreender o dinamismo das trocas, afim de estudar as relações privilegiadas que são mantidas entre a religião e a medicina, a doença e e sociedade.